O tempo não é um caminho.
O tempo é a medida humana da mudança e progride por negatividade, vencendo o presente, todos os presentes, para se projectar num futuro que, porque é futuro, é sempre desconhecido.
Mas este é um tempo humano, sujeito ao desejo, ao medo, à vontade de poder – um tempo que evolui e se desenrola de acordo com os acontecimentos que nele se inscrevem (…). É um tempo comprometido com a vivência dos acontecimentos que determinam o seu fluir aparente (…), é a marca do nosso pensamento projectado espacialmente – ele é, sobretudo representação.
De quê?
Do passado, da memória simbólica dos registos dos momentos importantes daquilo a que se chama o destino humano, mas que se transforma sobretudo numa ficção desse silencio tão desejado.
Ele também é representação; na sensação de um quotidiano que resulta da presença simultânea dos discursos de todos os falantes. Por fim, ele é ainda representação do futuro: na busca de sentido para a existência dos homens que necessitam de justificar as suas acções e compensar o incomodo de serem submetidos à vida, ou seja, ao desgaste do tempo.
In Gorjão Jorge, Lugares em Teoria, p.33
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