Visões

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Nascemos antes da criação do mundo, antes do lapso da nossa fantasia. As melhores imagens daí procedem.
Inventaste e inventas meios sempre mais eficazes de reduzir as distâncias... Mas porque inventas a distância ?
Damos fielmente corda aos relógios, para que a vida não pare e a morte sempre chegue.
Se recordasse o instante exacto em que comecei a ser, comigo o mundo instantaneamente explodiria.
Não feches os olhos que em ti se abrem.
A liberdade, movida pelo amor, destina o destino.
Não procurar é encontrar, não querer chegar é já estar lá.
Poesia: sonho acordado em que devimos e somos conforme imaginamos. Intermitência da vida original.
Ama tanto que com nada te aborreças.
Escasseia o tempo e a imaginação para dele sair e o reinventar. Por isso morremos de tédio e aborrecimento.
Perde o tempo sem perca de tempo !
Não penses. Voa e sê o melhor.
Na verdade nunca nascemos. Essa a fonte de toda a nossa liberdade e de todo o nosso drama.
Imaginamos e somos imaginados. Esta é a realidade. Real só o inimaginável.
A realidade é a fantasia em crise de imaginação.
Imaginar é imaginar-se.
Imaginadas, as imagens imaginam-nos.
Imaginar: a liberdade primordial em regresso e fuga.
Decaímos quando as imagens nos retiram todo o poder de imaginação.
A ficção de sermos só é comparável à de termos um fim.
Publicidade: regresso ao pensamento mágico sem a inconsciência de o ser.
O surgimento do mundo é o primeiro acto publicitário ? Uma publicidade para (auto-)consumo imediato ? De quem ?
"Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar" - Bernardo Soares, Livro do Desassossego.
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de Paulo Borges

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